No Benim, ainda há medo do mar, assombrado pelas memórias da escravatura. Esta memória perdura — ao longo "Rota dos Escravos" de Ouidah, em edifícios portugueses abandonados, em monumentos pesados de silêncio, e nos gestos da dança transportados pelo vento e pelas ondas. É mantida viva nas palavras dos mais velhos, que falam de luz e da esperança de recuperar o que foi perdido. O trabalho de vídeo-dança surgiu de entrevistas com sacerdotes Vodun, cujas percepções guiaram a colaboração com os dançarinos. O Benim, um dos epicentros do tráfico de escravos transatlântico, carrega ainda vestígios vívidos desta história. Ao longo da Rota dos Escravos, os cativos eram submetidos ao confinamento e à manipulação psicológica antes do embarque forçado. A obra procura também desmistificar o Vodun, frequentemente estigmatizado como "magia negra", mas que é na verdade uma tradição espiritual profunda, enraizada na resiliência.
Vanessa Fernandes, Tradição e imaginação, 2019. Full HD vídeo, cor, som, 4'32".
Vanessa Fernandes nasceu na Guiné-Bissau em 1978, viveu em Paris, Macau, Porto, Alemanha e atualmente vive em Aveiro. Mestre em realização de Cinema e Televisão pela ESAP. Escreve para Os 100 melhores planos do cinema de Nélson Araújo e Drive-in: Design em projeção de Joana Rafael e Patrícia Serqueira Brás. Em 2023 co-dirige, com Ivo Reis, Forma Livre para a Interculturalidade, projeto apoiado pela DGArtes. Expõe com o artista plástico Xin Song na mostra Tales of Two Cities III: Invented Sea: Porto and New York, no Espaço Rampa Porto, com curadoria de Michelle Loh – Nova Iorque. Participa com o vídeo-arte Every monster needs a place to stay na exposição Íntimo a político: um avatar coletivo, com o Coletivo InterStruct, no Espaço Mira – Porto; apresenta Stand here, vídeo-instalação no 8.º Triangle Network, no Hangar – Centro de Investigação Artística em Lisboa. Faz parte do livro Atlantica: Contemporary Art from Cabo Verde, Guinea-Bissau, São Tomé and Príncipe and their Diaspora. Participou em Mudança (2021), de Welket Bungué, e Resonance Spiral (2024), de Filipa César e Mario Pina, exibido no MoMA – EUA, ambos selecionados para a Berlinale, na Alemanha. Entre Porto, Lisboa e Algarve, faz parceria com companhias de teatro e associações culturais como Cão Danado, AgitLab, VIC Art House, Corpodehoje, Femafro, UNA e SOS Racismo. Realizou curtas-metragens como Tradição e imaginação, Mikambaru, Si destinu, Fiji, Cura, MadMudPool e a série para a RTPLab Matemática Salteada. Participa em festivais como: Festival Internacional de Cinema de Cabo Verde, na Praia (com prémio de Melhor Curta-Metragem), Festival de Cinema Experimental de Bogotá, Diáspora International Film Festival Nilo – Kampala e Festival da Igualdade, em Kiev. Com a parceria de Ivo Reis e o projeto Espectro Visível, realizou a instalação multimédia Museu2059, o video mapping para o III Festival da Rua de Layounne e a performance Chumbo e Algodão, apresentada no TAGV – Coimbra e no Fórum Internacional de Gaia 2019. É convidada para debates e conferências internacionais, como Afroeuropeans Studies Conference, Para nós, por nós: produção cultural africana e a conferência internacional organizada pelo Centro de Estudos Africanos do Porto, A luta das mulheres no Cinema africano e Médio Oriente (2016).