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Contemporânea

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    more-than-human — perspectives on technology and futurity [2]

    Galeria Avenida da Índia, Lisboa, Portugal
    1 / 6

    more-than-human — perspectives on technology and futurity apresenta seis filmes que exploram, de formas diferenciadas, a complexa relação e análise crítica do uso da tecnologia como instrumento e dispositivo capitalista e o seu impacto na vida humana, na permutabilidade entre o natural e o artificial, o robótico e o orgânico e as tensões que esses processos geram Nas últimas duas décadas, a transformação radical e, ou, superação da condição humana, através da tecnologia, tem gerado profundas questões éticas e filosóficas.

    Do ponto de vista teórico, as vantagens e os riscos associados à identidade pessoal, às novas alteridades, à igualdade e justiça social, morte e imortalidade, religião e o significado da vida. Do ponto de vista prático, a inteligência artificial e a hibridização homem-máquina, levantam questões de ética associadas ao aperfeiçoamento físico, cognitivo e moral, à defesa e à segurança. A antevisão de futuros desenvolvimentos sociais e tecnológicos inspirou este projeto que investiga noções de futurologia, mitologias transumanas e outros contextos invisíveis, corpóreos e subjetivos.

    Deus, humano ou mais-que-humano? Um futuro de superação tecnológica através de biohacking, optimização cognitiva e outras tecnologias biomédicas, visa a transcendência da dimensão física — a expansão e preservação da consciência para um novo corpo biológico-artificial. A tecnologia opera, assim, enquanto promessa de omnipresença, omnipotência e omnisciência, ou seja, de imortalidade. Da ciência à cosmologia, da inteligência sobrenatural e artificial, à ficção científica e incorporando abordagens críticas que operam além da normatividade, mais-que-humano implica a reavaliação da nossa relação com a vida, a promoção de redes de ética e responsabilidade, formas colectivas de produção de conhecimento e outros modos de interpretação e entendimento que superem as fronteiras entre o eu e o outro, humano e não humano, orgânico e tecnológico e partilhem preocupações, motivações e desafios comuns, apesar das diferenças críticas ou metodológicas que possam surgir.

    Um futuro de consciência ecocêntrica reclama o fim do antropocentrismo, pensa a humanidade além da sua suposta centralidade e integra perspectivas mais-que-humanas, que reconhecem um futuro ambientalmente sustentável e eticamente consciente, incorporando as problemáticas éticas, estéticas, políticas e sociais inerentes à condição contemporânea. Admirável mundo novo1 — os avanços tecnológicos inscritos em certos cenários distópicos e apocalípticos estão associados à instabilidade política, económica e social. O desenvolvimento tecnológico contemporâneo parece encarnar formas de poder e autoritarismo que desafiam fundamentos básicos de, e na, organização social, a qual se encontra em processo de transformação, incluindo a estrutura das relações interpessoais. Vivemos num cenário onde a comunicação digital e as redes sociais moldam a nossa existência e oferecem um espelho opaco de egos narcísicos sem corpo. Não é possível avaliar a extensão da manipulação dos nossos dados, mas a produção de capital depende dessa troca e circulação de informação operando através de plataformas digitais assentes em valores puramente extrativistas e capitalistas — “o capitalismo é uma máquina de tradução para a produção de capital a partir de todos os tipos de meios de subsistência, humanos e não humanos”2. A tecnologia pode, simultaneamente, representar o problema e a solução; ao considerarmos narrativas plurais mais-que-humanas criamos uma realidade partilhada, imaginamos o futuro agora.

    – Celina Brás, direção artística

    Sinopses


    AnaMary Bilbao, Prelude, 2023, 7'10'', 16 mm transferido para UHD, cor, som, loop, 16:9

    “La mort” — a morte — apenas antecipa o que está por vir. O gesto de “La mort” escrito à mão revela uma energia e um movimento que estão ausentes das figuras que se assemelham a marionetas, apenas animadas pela movimentação da própria câmara. O antropomorfismo inquietante das marionetas aponta para algo que se assemelha a, mas que não reproduz, uma figura humana ou animal. No entanto, em substituição dos seus indicadores, estes símbolos evocam uma vida diferente daquela que conhecemos. Na sua obra canónica A Câmara Clara, Roland Barthes lembra-nos como o cinema, ao contrário da fotografia que fixa figuras; como borboletas [preservadas]”, permite que os seres continuem a viver (56–57). O presente cinematográfico está vivo, carregando o seu referente sem estar amarrado a ele. As diabólicas moscas-lanterna a que Bilbao dá corpo, ou os diabos das moscas-lanterna, dançam em stop motion, recusando-se a serem afixadas como uma borboleta murcha  e morta. No seu movimento estático, a  mosca-lanterna de Bilbao tremula, confrontando a humanidade da marioneta semelhante a um palhaço, antropomórfica e inerte. A obra de AnaMary Bilbao questiona permanentemente noções de origem e conclusão. “Todos os meus processos andam à volta do início e do fim das imagens”, explica a artista em conversa. (…) Pela primeira vez, Bilbao não está em contacto direto com a materialidade da imagem, mas relaciona-se sim com as representações virtuais de imagens artificialmente geradas. Como explica a artista, “O sistema DALL·E não tem fim;  ele oferece sempre mais e mais variações da mesma imagem. Por isso, a imagem nunca está terminada; nunca encontra a sua conclusão. Ela é transformada por novas informações,  ao mesmo tempo que produz novos dados. O algoritmo não tem um final à vista.”

    — Alejandra Rosenberg


    Igor Jesus, Ventríloquo, 2024, Gelatina e sais de prata, metal, projeção full HD e altifalantes. Som e imagem generativos, gerados a partir da recepção e interpretação de ondas rádio.


    Um papagaio fotografado através de uma lente deformada por processos de polimento manual revelou a imagem que fornece as coordenadas para a construção de antenas que permitem a escuta de diálogos radiofónicos amadores. Ventríloquo persegue a ideia do domínio da linguagem sobre a imagem ao utilizar o vocabulário do papagaio como comandos, para interceptar e interferir nas escutas captadas, enquanto, simultaneamente, manipula os feixes de luz dos projetores, produzindo manifestações lumínicas que afetam a imagem, e dotam o papagaio da capacidade de produzir uma experiência cinematográfica escultórica.

    Pedro Barateiro, Love Song, 40′, 2023-24, HD, cor, som

    Um filme sobre o crescer com a tecnologia e os laços entre agentes humanos e não-humanos, Love Song é ao mesmo tempo autobiografia e autoficção. O filme aborda a subjetividade e a percepção das mudanças que transformam o indivíduo e o coletivo. Love Song parte da minha adolescência e de uma tomada de consciência do corpo — o que chamamos de “eu” — como um espaço onde se confrontam o interior e o exterior, e as camadas que estes engendram. O filme toma como exemplo os meus pais, que namoraram sobretudo por correspondência, e os aspectos romantizados das suas interacções no Portugal fascista do final dos anos 60, entre a imigração (mãe) e a guerra colonial (pai).

    Love Song rejeita qualquer forma de identificação. Começou como uma peça áudio, uma banda sonora para um filme que ainda está a ser feito e que se transformará noutra coisa. O filme trata as convenções da narrativa e a forma como têm sido manipuladas pelo capital, ligando o Romantismo (o movimento do século XIX) e o Capitalismo (o uso moderno da palavra no século XIX) e os sistemas binários fomentados pela biologia e pela religião, para questionar as formas de produção e as mudanças que geraram na Europa e no Ocidente. Love Song tenta abordar os usos e abusos da palavra “amor” e a forma como esta é apropriada nas sociedades ocidentais neoliberais num contexto de colapso iminente dos sistemas sociais e naturais.

    Direção Artística
    Celina Brás

    Horário
    Terça a Domingo
    10h–13h / 14h–18h

    Local
    Galeria Avenida da Índia

    Organização
    Contemporânea

    Apoio
    DGArtes

    Data
    17.02–24.03.2024

    Artistas
    AnaMary Bilbao
    Igor Jesus
    Pedro Barateiro

    Tradução do texto PT-EN e revisão do EN das sinopses
    Diogo Montenegro

    Fotos
    Bruno Lopes

    Agradecimentos
    MAC/CCB

    Entrada
    Livre

    Folha de Sala
    Folha de Sala para crianças
    Galerias Municipais de Lisboa/EGEAC